Por
Mário Prata
Ele não estava completamente embriagado. Mas caminhava a passos e copos largos para tanto. E conseguiu, num passo alto, subir em cima da mesa do barzinho ali da Vila Madalena. E se equilibrou numa boa com o copo de uísque na mão.
– Pessoal,
pessoal, por favor. Um minuto de silêncio. Um minutinho só.
Conseguiu
colocar o copo na mesa num esforço sóbrio. Bateu palmas.
– Por
favor, gente. É um minuto só. O que é um minuto?
As
pessoas foram ficando em silêncio, o bar parou. Todo mundo olhava
para aquele senhor. Quase setenta, eu diria.
– Seguinte.
Eu queria levantar uma questão para colocar em discussão por todos
vocês. É sobre o minuto de silêncio. Não esse que pedi para
vocês. Mas para o minuto de silêncio antes de começar o jogo de
futebol, em função da morte de alguém. Outro dia teve um minuto de
silêncio por causa da morte do parente de um ex-diretor do time. O
que eu quero saber é porque só fazem um minuto de silêncio no
futebol!!! Alguém já havia pensado nisso? Nos outros esportes não
tem minuto de silêncio!!! Pode pensar. Nem na posse do presidente da
república. Eu quero saber quem foi o filho da puta que inventou o
minuto de silêncio antes do futebol. Em lugar nenhum tem minuto de
silêncio, caralho! Por que! Por que? Quem foi o filho da puta...
Deixa pra lá.
Sentou-se
novamente, acabou o copo, pagou a conta e foi embora. E, da porta,
ainda gritou:
– Quem
foi o filho da puta que inventou o minuto de silêncio?
E
deixou uma puta discussão em aberto no boteco.
Mário Prata é escritor e já fechou muitos bares.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Muito agradecida!