“E na praia é que se
vê,
A areia melhor pra deitar
Vou dançar uma ciranda
pra beber
Uma cerveja antes do
almoço é muito bom pra ficar pensando melhor”
Chico Science
Hoje completam-se 15 anos
sem o cantor, compositor, resgatador e criador de cultura Chico
Science. A música deste pernambucano embalou e embala muitos bares e
festas, deixa a gente animada, quando o tambor bate forte as
tradições do maracatu e a guitarra grita as influências do rock e
da música pesada. A música de Chico Science se preserva na
continuidade dos músicos que ainda propagam o som do Manguebeat, som
de uma geração dos anos 90 que vem para hoje com a força do
contemporâneo.
No blog não poderíamos deixar
de fazer uma homenagem e, para não sair do tema, buscamos a ligação
deste homem com o bar, é claro. Veja o que Moisés
Neto escreve no livro “Chico Science, Zeroquatro &
Faces do
Subúrbio: A Cena
”, sobre a formação cultural de Chico
Science:
“Do
outro lado da cidade, Fred Zeroquatro, Renato Lins, Jorge dü Peixe,
Helder
Aragão (DJ Dolores), HD Mabuse e Chico Science (ainda
conhecido como Chico Vulgo),
entre outros, se reuniam em bares como
o Cantinho das Graças, Franc’s Drinks (um
antigo prostíbulo) e
posteriormente na Soparia do Pina (de Roger de Renor). Discutiam,
entre outras coisas, literatura beatnik e iam dividindo discos e
informações mais novas do
mundo. Entre uma cerveja e outra, essa
turma da classe média falava da teoria do caos (em
todo caos há
uma ordem), dos fractais (a repetição cria novos sistemas, na
mistura). É
quando Chico lê o romance Homens e Caranguejos, de
Josué de Castro (1908-1973)..."
Renato
L, o qual desenvolveu, junto com Fred 04 (Mundo Livre S.A) e Chico
Science, o Manifesto “Caranguejo com Cérebro”, conta como Chico
Science, no bar, inspira os demais ao som que ele veio a chamar de
Mangue:
“Eu
estava no Cantinho das Graças, um bar sem qualquer atrativo
frequentado pela galera. Na mesa acho que bebiam Mabuse, Fred,
Vinícius Enter e outros. De repente, Chico apareceu e sem nem sentar
foi anunciando “olha, fiz uma jam session com o pessoal do Lamento
Negro e mesclei uma batida disso com uma batida daquilo e um baixo
assim...Vou chamar esse groove de Mangue!”. Na hora, ficamos sem
saber o que era mais interessante, o som ou a palavra usada para
sintetizá-lo. Aquele era o rótulo! Como todo mundo tinha um sonho
em mente e um esboço de trabalho em conjunto havia se delineado em
algumas festas, a tentação de ampliar o conceito surgiu de
imediato. Acho que numa despretensiosa meia-hora surgiram os esboços
de quase todos os conceitos básicos do Mangue... Aquela noite, na
minha memória, sem que ninguém percebesse, foi um momento-chave”.
O bar chamado Soparia foi
palco do Manguebeat, onde a cultura se reunia e se propagava. Helder
Vasconcelos, um dos criadores de Mestre Ambrósio, escreve sobre o
bar:
“Soparia, de sopa, foi
o bar com shows ao vivo mais democrático dos anos 90. Ponto de
encontro de toda uma geração, reunia todos os artistas da cidade,
incluindo os que fizeram a movimentação Manguebeat. Roger, que
comandava o bar, ficou imortalizado na música gravada por Chico
Science e Gilberto Gil. Era o único local da cidade que tinha shows
todos os dias. Santa Boêmia, Mundo Livre S.A., Jorge Cabeleira e o
Dia Que Seremos Todos Inúteis, Paulo Francis Vai Pro Céu, Chico
Science & Nação Zumbi, entre muitos outros, tocaram lá. Para o
Mestre Ambrósio, foi muito mais do que um lugar de show. Com duas
temporadas em dois anos, o grupo tocava todas as quartas-feiras. Sem
dúvida, foi onde nasceu suas apresentações e também onde formou
seu público inicial, fundamental pra sua carreira.”
O dono do Soparia, Roger,
e a radiola de ficha que tocava sons ecléticos no bar são parte da
letra da música Macô, de Chico Science:
“De lama nada
Segura essa garrafa
O Gargalo já tá feito
Táis adivinhando cheia
Olha pra lá, vira a cara
não dá bola
Pega uma ficha aí bota
lá na radiola
Cadê Roger, Cadê Roger,
Cadê Roger, Ô!”
Roger e sua Caravan, em uma foto de 2011 |
O Soparia fechou em 1998,
mas no mês de janeiro, em Recife, teve festa pra comemorar os 20
anos da criação do bar. Roger está bem vivo, é produtor cultural, e
não deixa a história se perder. Chico Science se foi em um
carnaval, no ano de 1997. Sua música ainda sacode o corpo e a cabeça
da gente.
Saiba
mais:
Livro
“Chico Science, Zeroquatro &
Faces do Subúrbio: A Cena
”
MANGUE
BEAT – Breve Histórico do seu Nascimento
Manifesto1
“Caranguejos com cérebro” e Manifesto 2 “Quanto vale uma vida”
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