Por
Xico Sá
xicosa@uol.com.br
Gazelas
insinuantes aproveitam as nuvens de testosterona que encobrem a noite
dos bares da vila Madalena, SP, e distribuem folhetos contra a
“disfunção erétil”.
Sim,
a humaíssima brochada ou broxada, por supuesto, como admitem os
dicionários.
Uma
piadinha bêbada aqui, uma cantada grosseira acolá, e lá seguem as
moças na pregação cívico-priápica.
Uma
galega linda. Tão linda que só perde para Amanda –a pescadora dos
sete mares-, me sorri bonito e barulhento como o cachorro da música
de Roberto.
O
panfletinho azul que elas distribuem nem toca no nome da pílula
milagrosa. Nem carece.
Mal
as fofoletes adentram o Filial, botequim da madruga, e a nossa mesa,
enfeitada por um magote de cabra safado, ataca de “Capim Novo”, o
clássico da disfunção erétil de todos os tempos:
“Esse
negócio de dizer que droga nova/ muita gente diz que aprova/ mas a
prática desmentiu...”
Nossa
canção de protesto toma conta do ambiente. Um belo fuzuê:
“O
doutor disse/ que o problema é psicológico/ não é nada
fisiológico/ele até me garantiu...”, emendamos.
“Certo
mesmo é o ditado do povo/ pra cavalo velho/ o remédio é capim
novo”.
A
música de Luiz Gonzaga e José Clementino toca fogo na noite
paulistana.
Pianinho,
pianinho, como dizia Benito de Paula. Silêncio no ambiente.
Aí
começa um debate de altíssimo nível. Com participação das
gazelas, dos garçons, do tirador de chope...
Beber
é ter sempre uma tese de algibeira.
A
desta fatídica noite: pelo direito de falhar, pelo direito de ouvir
um lindo “relaxa, querido, isso acontece nas melhores famílias do
Crato.”
Tempos
chatos estes da felicidade química a qualquer custo.
Como
diz uma amiga curitibana, linda afilhada de Balzac, hoje em dia as
mulheres não sabem mesmo se são o motivo daquele sexo inspirado ou
se tudo não passa de mais um milagre da pílula.
Acabou
aquele suspense, hitchcockianismo do amor, diante da possibilidade de
um retumbante fracasso na cama.
Acabou
o orgulho da moça em fazer funcionar algo aparentemente leso e
morto.
Com
as tais das drogas novas, o camarada é capaz de ficar excitado até
num velório. Morte de parente próximo. Qualquer coisa que se bula é
motivo para o assanhamento.
Esse
paraíso artificial só faz sentido para os vovôs.
As
autoridades poderiam até distribuir umas drágeas por ocasião do
pagamento das aposentadorias. Seria o fim geral do fastio.
Nada
de “vovô viu a uva”. Coisa das antigas. “Vovô viu o Viagra”.
Esta sim seria a nova aliteração didática das cartilhas infantis.
Para
os mais jovens, jamais. Apenas a pílula do destemor e da coragem.
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