segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Decálogo da boemia consciente e sustentável


 Por Xico Sá

Para Rê Bordosa (by Angeli), minha bêbada inesquecível


"Culus bebedorum dominus non habet"


I) Não apenas por hoje, o dia sem carro. Faça como este pedestre e flâneur inveterado, se vai beber, esqueça o automóvel. E ande sempre com o endereço e o seu nome completo pendurado na correntinha do pescoço para facilitar a volta ao lar doce lar.

II) É de bom-tom sempre guardar o nome dos garçons, afinal de contas é no ombro deles que vais chorar, ao som de “Nervos de Aço”, a inevitável, acachapante e humaníssima dor de corno.

III) Na saúde e na doença, a culpa será sempre do tira-gosto, ah, aquela calabresa, aquele torresmo, aquele caldinho, aquela moela, aquela azeitona me fez mal à beça... Jamais a culpa será da cachaça, da tequila ou do uísque.

IV) Boemia é como futebol, exige ritmo de jogo, seqüência; se você a larga por uns dias, ela te pega na curva, te dá um caldo, uma rasteira... mesmo que peças,suplicante, de volta, a tua nova inscrição.

V) A divisão do tempo da prosa, na mesa de um bar, deve obedecer ao seguinte critério: 50% sobre mulheres,40% sobre futebol e 10% sobre a antologia de ressacas monstruosas, a nostalgia precoce das quedas anteriores. Advertimos, porém: depois dos 45 anos a ressaca não se resume à bela inércia improdutiva -vira uma espécie de dengue existencialista, mesmo que você seja um resistente macho-jurubeba.

VI) Procure sentar sempre nas primeiras mesas do botequim, se possível na calçada, lá colado na sarjeta, pois todos os dias, alguma mulher irada sai de casa, revoltada com o miserável consorte, e diz assim, muito resolvida: “Hoje eu vou dar para o primeiro que encontrar”. Se bem colocado, este primeiro serás tu, bravo boêmio.

VII) Direito máximo do consumidor: desde que o freguês não se incomode com água e sabão nos pés, poderá ficar no recinto até a descida do portão de ferro.

VIII) É livre o “pindura”, data vênia, para fregueses com mais de cinco anos de casa, como reza a lei do usucapião.

IX) Meu bar/meu mar... É permitido nadar no seco beijando os pés das moças por debaixo das mesas. Mesmo que você, amigo, não seja um macho-tupperware, aquele macho-tupperware, aquele bêbado que a mulher guarda para comer no dia seguinte.

X) No país da impunidade, a saideira é como a lei, existe para ser desobedecida. Seu garçom faça o favor, mais uma. E nem me diga qual foi o resultado daquela pelada do São Paulo x Corinthians.

Agora é a sua vez, irmã(o) de copo e boemia, de ampliar esses mandamentos. Que outras dicas poderíamos acrescentar nesta tábua sagrada?
 

 

2 comentários:

  1. No país da impunidade, a saideira é como a lei, existe para ser desobedecida.Xico Sa, obrigado! Vc está muito certo!!

    ResponderExcluir
  2. "Culus bebedorum dominus non habet"
    Cu de bebado senhor não há"... frase maravilhosa, profundíssima.. estejam atentos os bêbados/as... salientando-se é claro que essa experiencia pode vir a ser algo ótimo.

    ResponderExcluir

Muito agradecida!