reprodução UOL |
Me
pergunto quantos e quais bares amanheceram domingo com fitas pretas
atadas nas garrafas de cerveja? Bares onde Sócrates esteve, onde
bebia, onde proseava, onde defendia a vida com seu olhar humano e
grandioso. Muitos bares tiveram a honra de tê-lo naquela noite,
naquela mesa, naquele canto. Alguns foram bares de sua preferência.
Bares que frequentava. Outros esteve uma só vez ocasionalmente. Como
é caso do Santo Bar do Coroinha, na Bela Vista. Desse bar eu sei,
porque tive a honra de estar ao seu lado. De beber com ele até as
nove horas da manhã. Eu e Graça Berman uma grande amiga do teatro.
Neste
bar pudemos desfrutar da companhia deste homem inteligente, divertido
e sarrista. Com ele, tomando uma Original geladíssima e comendo uma
porção de lingüiça Calabresa Dragão, reflexionávamos sobre o
futebol e sobre o Brasil.
Todo
o bar naquela noite pôde conhecer a generosidade de Sócrates.
Sempre educado e respeitoso com todos que se acercavam a nossa mesa.
E olha...foram muitos durante toda a noite. Até se predispôs a
falar por telefone com um garoto de 10 anos que o pai acordava no
meio da noite para falar com o Doutor.
Tantas
coisas o Doutor nos disse naquela noite!!! Queria poder recordar
todas. Mas uma ficou gravada “Ele não é um ser humano”.
Referindo-se a um certo jogador.
Um
rapaz aproximou-se de nossa mesa e sentou com a gente uns dez
minutos. Lá pelas tantas o rapaz foi embora. O dia amanheceu. E mais
ou menos as 9 horas, passava o rapaz pela porta do bar. Parou e olhou
perplexo: ainda estávamos lá. O Doutor inteiro, a Graça
borbulhando os olhos e eu já me confundia com a cadeira. Eu era a
cadeira, a cadeira era eu. Uma coisa só. Um estado lastimável da
matéria humana. Mas feliz. Feliz por mais um momento ao lado dessa
grande pessoa. Os garçons do bar, nem tinham pressa de ir embora. Às
9 deixamos o bar e fomos para nossas casas.
Esse
pai que estava no santo Bar não esquecerá esta noite. Nem essa
criança de dez anos despertada no meio da noite, para ouvir a voz do
Doutor. Achou que era sonho.
O
Doutor já não mais retornará ao Santo Bar nem a nenhum outro. Ele
se vestiu e se armou com as armas de Jorge, pegou estrada e saiu
cantando: vou-me embora, vou-me embora, eu aqui volto mais não, vou
morar no infinito, vou virar constelação!!!!
E
a partir de hoje como não olhar o céu em noite estrelada sem sentir
uma profunda triste alegria? Como não olhar esse céu e dizer:
Doutor, eu tô te vendo!!! Essa estrela que eu vejo é você...E
aquela é o Neco! Olha...o Luizinho!!! Nossa...o Servilio!!!!
E
aqui fica a dica desse bar onde o Doutor esteve comigo e com minha
amiga Graça Berman: Santo Bar do Coroinha na Rua Rui Barbosa, 206,
Bixiga. Um lugar gostoso e aconchegante. Garçons simpatissísimos e
educados. Tem que provar o pão italiano com acepipes. A gente se
serve diretamente do balcão. E de sábado, não falta a feijoada.
Agora... é que nem o Bar do Valtinho, não aceita cartões. Ah! E
não é buteco!!!!! É bar. Ah como eu gostaria de ter levado o
doutor pra beber no Valtinho ou no Macarrão!!!! É a cara dele! Cara
de Corinthiano, Maloqueiro e Sofredor.
Doutor,
de qualquer bar onde eu esteja, meu primeiro gole será para brindar
a sua passagem por este planeta!!!!!
Caro amigo Augusto, obrigada por escrever esse maravilhoso momento. Vi tanta gente falar mal do Sócrates porque ele gostava de biritar que chegou a me dar até asco de ver reportagens neste dias. Ao meu ver o Sócrates era tão querido, amado, autêntico, que a mídia tem buscado, nestes dias, cutucar as fracas consciências para dizer que ele era burro, não soube se cuidar. Ele soube ser o que queria ser e ponto final. Consciente de tudo o que fez, deixou-nos, depois de uma curta, porém plena passagem por este mundo. Só reforça minha admiração e amor por este homem, que vai além de ele ter sido jogador do Corinthians, mas por ter sido o ser humano que foi. Brindo com você, Augusto, nos bares, a passagem dele por este mundão.
ResponderExcluir