de Luís Fernando Veríssimo
Tinha pouca
gente no bar quando o homem entrou. Ele sentou numa banqueta do bar,
sorriu para o barman e pediu:
- Dois uísques.
Dois?
- Um puro, com
gelo, para mim, outro com soda para o Rubens.
O barman
sorriu.
- O Rubens vai
chegar depois?
- O Rubens está
aqui do meu lado.
O barman
hesitou, continuou sorrindo, depois deu de ombros. Tudo bem. dois
uísques, sendo um com soda para o Rubens. Colocou os dois uísques
na frente do homem, que empurrou o que tinha soda para o lado. Depois
de tomar o seu, o homem falou.
-Rubens,
telefone para casa e xingue a sua mulher. Agora. Ela compreenderá.
Em seguida o
homem tomou o uísque com soda também e confidenciou para o barman:
- Na verdade eu
não bebo, Só venho para acompanhar o Rubens e evitar que ele beba
demais. Notou como eu tomo o uísque dele sem ele perceber? É o
jeito. Senão ele fica inconveniente. Canta "Conceição".
O diabo. Põe outro soda aqui pro Rubens não notar que eu bebi o
dele.
Mas ele é
parente seu?
- Que parente?
Eu nem conheço.
- Mas então
porque...
- Olha aqui,
não fala assim do Rubens. É um grande cara. Teve uma vida cachorra,
entende? Cachorra. Não foi nada que quis ser na vida. Tem problemas
em casa. Olha, ele está voltando e vai lhe acertar uma.
- Mas o que foi
que eu fiz?
- Fica aí
insinuando que ele é doido. Só porque tem um amigo imaginário.
Pois o amigo dele sou eu e eu existo. Ou não existo?
- Calma, calma.
- "Conceição,
ninguém sabe..." Põe mais dois aqui. Um só com gelo e um
com...
- O senhor não
acha que já bebeu demais?
- Como é que
eu vou saber? Estou bêbado.
- Acho que
chega.
- Então traz
só o do Rubens.
- É melhor o
senhor ir pra casa.
- Não
contraria o Rubens que é ele que tá pagando!
Este texto está publicado no livro do autor intitulado Novas comédias da vida privada, L&PM Editores, 1996. Foi encontrado na internet em http://www.sinpro-rs.org.br/extra/ago97/verissim.htm
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