Por
Xico Sá
Para
Rê Bordosa (by Angeli), minha bêbada inesquecível
"Culus
bebedorum dominus non habet"
I)
Não apenas por hoje, o dia sem carro. Faça como este pedestre e
flâneur inveterado, se vai beber, esqueça o automóvel. E ande
sempre com o endereço e o seu nome completo pendurado na correntinha
do pescoço para facilitar a volta ao lar doce lar.
II)
É de bom-tom sempre guardar o nome dos garçons, afinal de contas é
no ombro deles que vais chorar, ao som de “Nervos de Aço”, a
inevitável, acachapante e humaníssima dor de corno.
III)
Na saúde e na doença, a culpa será sempre do tira-gosto, ah,
aquela calabresa, aquele torresmo, aquele caldinho, aquela moela,
aquela azeitona me fez mal à beça... Jamais a culpa será da
cachaça, da tequila ou do uísque.
IV)
Boemia é como futebol, exige ritmo de jogo, seqüência; se você a
larga por uns dias, ela te pega na curva, te dá um caldo, uma
rasteira... mesmo que peças,suplicante, de volta, a tua nova
inscrição.
V)
A divisão do tempo da prosa, na mesa de um bar, deve obedecer ao
seguinte critério: 50% sobre mulheres,40% sobre futebol e 10% sobre
a antologia de ressacas monstruosas, a nostalgia precoce das quedas
anteriores. Advertimos, porém: depois dos 45 anos a ressaca não se
resume à bela inércia improdutiva -vira uma espécie de dengue
existencialista, mesmo que você seja um resistente macho-jurubeba.
VI)
Procure sentar sempre nas primeiras mesas do botequim, se possível
na calçada, lá colado na sarjeta, pois todos os dias, alguma mulher
irada sai de casa, revoltada com o miserável consorte, e diz assim,
muito resolvida: “Hoje eu vou dar para o primeiro que encontrar”.
Se bem colocado, este primeiro serás tu, bravo boêmio.
VII)
Direito máximo do consumidor: desde que o freguês não se incomode
com água e sabão nos pés, poderá ficar no recinto até a descida
do portão de ferro.
VIII)
É livre o “pindura”, data vênia, para fregueses com mais de
cinco anos de casa, como reza a lei do usucapião.
IX)
Meu bar/meu mar... É permitido nadar no seco beijando os pés das
moças por debaixo das mesas. Mesmo que você, amigo, não seja um
macho-tupperware, aquele macho-tupperware, aquele bêbado que a
mulher guarda para comer no dia seguinte.
X)
No país da impunidade, a saideira é como a lei, existe para ser
desobedecida. Seu garçom faça o favor, mais uma. E nem me diga qual
foi o resultado daquela pelada do São Paulo x Corinthians.
Agora
é a sua vez, irmã(o) de copo e boemia, de ampliar esses
mandamentos. Que outras dicas poderíamos acrescentar nesta tábua
sagrada?
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