Por Xico Sá
Li agora, na revista “são Paulo”
desta Folha,
que a catuaba virou modinha de baladas de bacanas. Não sem
merecimento, como diria o dublê de Conan aí acima do desenho do
Benício que enfeita o rótulo da marca “Selvagem”.
Coisa linda. A cidade melhora quando
uma bebida da ralé migra para outra categoria ou classe. Quando
ocorre o contrário, melhor ainda, sinal que houve uma certa
democratização do goró da gente phyna -fato social bem mais raro,
põe raro nisso.
Aproveito o bigu na ótima matéria do
colega Rafael
Balago para
resgatar uma velha crítica que fiz sobre outra fonte de embriaguez e
sabedoria popular: a jurubeba.
Se no vinho metido está a verdade (In
Vino Veritas),
In Jurubeba Fabulari, ou
seja, na jurubeba está o poder de fabular, mentir,
xavecar etc.
Sem mais arroto, vamos à sofisticada
degustação deste sommelier da caatinga:
A primeira expedição, como no filme
“Sideways”, teve como destino Aratu, na Bahia. Não poderíamos
iniciar com outro licor dos deuses que não fosse o vinho macerado da
Solanum paniculatum, a
rica fruta conhecida vulgarmente como jurubeba, a pinot noir de quem
nasceu para beber, não para cheirar a rolha e desgustar
como uma freira.
Mal você abre a tampinha de lata
reciclada –é mais ecológico, a cortiça vive uma crise na Europa-
e já percebe se tratar de um vinho compacto, com um bloco de
aromas em leque perfumando o ambiente, mesmo o pior dos pés-sujos da
Lapa de Baixo.
De perfil aromático limpo e complexo
–nosso crítico também não trabalha com amadeirados e quetais-, o
Jurubeba Leão do Norte guarda a essência de extratos de cravo,
canela, quássia, boldo e genciana. O tanino de caráter rijo
junta-se ao caramelo de milho e dá tintas finais à uma coloração
entre o rubi e frutas negras do semi-árido -com halo aquoso ainda em
formação.
Repare no sabor fugidio do jatobá e
da flor de muçambê, com florais de mulungu e pau-d´arco ao longe.
No todo, o equilíbrio chama a atenção. E de que mais precisamos,
amigo papudinho, do este suposto equilíbrio no momento da volta ao
lar doce lar?!
O vinho de jurubeba harmoniza bem com
a gastronomia de sustança. Pratos sugeridos: mocotó, mão-de-vaca,
chambaril, bode e caprinos no geral, javali, teju etc.
Podemos aplicar ao jurubeba o mesmo
impressionismo paradoxal que o renomado crítico Robert Parker usou
para definir o Romanée-Conti: “Aromas celestiais e surreais…”.
Seja lá que diabo ele quis dizer com essa xaropada de adjetivos.
Saúde! Porque se os outros vinhos
ajudam o coração, o jurubeba é reconhecido na medicina popular
como um fortificante da cintura para baixo. Afrodisíaco no último.
Até a próxima visita às adegas e
aos alambiques mais roots do país. Mande também a sua sugestão de
nossos melhores licores.
E lembre-se, amiga, antes uma bela de
uma mentira amorosa de um macho-jurubeba do que uma verdade arrotada
por um homem-bouquet -aquele camarada que aplica o caô do
especialista em vinhos finos. Corra Lola, corra.
O texto foi originalmente publicado em
http://xicosa.blogfolha.uol.com.br/2014/08/05/enologia-selvagem-o-vinho-jurubeba-i/
em 05/08/2014.
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