Por Xico Sá
xicosa@uol.com.br
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E assim começamos o ano do centenário de Vinícius
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Reflito
aqui com Miss Soledad, primeiro dia do ano, na margem esquerda do
Capibaribe: o homem só é bom por inteiro quando está de ressaca.
Como
é virtuoso o homem de ressaca. Se não bebe, vale a ressaca moral,
naturalmente.
Ao
amigo que emenda uma bebedeira na outra de modo a não conhecer mais
esse estado de espírito, recomendo: vale a pena dar uma chance a uma
ressaquinha felina.
Na
ressaca, o homem tem alma de gato; no restante da vida, o homem
repete o cachorro.
O
primeiro pensamento no homem de ressaca solteiro é casar-se, ter
filho, uma vida regrada, amar a Deus sobre todas as coisas, cumprir
os dez mandamentos.
Sim,
ao acordar naquela manhã de sonhos intranquilos, amigo Otto, o mais
vagabundo e vira-lata dos homens pensa em véus e grinaldas.
O
homem de ressaca está sempre em um altar imaginário à espera da
noiva.
Se
for casado, o homem de ressaca põe na ponta do lápis os planos para
o ano novo.
E
promete. Como promete um ressacado. Promete mais do que todos os
prefeitos assumidos neste primeiro de janeiro.
O
homem sob o sol da ressaca é de uma dignidade estupenda. Imaculado,
fiel, ético, extremamente confiável nesta real grandeza da hora.
Impecável.
O homem diante do chá de boldo de todas as regenerações morais
deste início do ano da graça de 2013.
Carinhoso.
Ninguém é mais carinhoso com a mulher do que o homem de ressaca. Só
não leva café na cama por estar sem condições físicas para o
ato, mas pede os melhores pratos em domicílio.
Neste
instante da comida, ele faz, inclusive, mais uma promessa: este ano
será mais do cinema de mãos dada e cada vez menos do boteco.
Mesmo
em câmera lenta, como é bom de cama o homem hepaticamente
fragilizado. Aliás, amigos, deixo uma interrogação das mais
sérias: por que ficamos tão tarados em dias de ressaca? É uma
paudurescência infindável –mesmo sabendo que a ressaca, depois
dos 40, é uma doença, uma dengue existencialista.
Recapitulando:
o homem de ressaca é perfeito. Não mente, não pula a cerca, é
carinhoso e tântrico.
Só
na ressaca existe o homem. É neste estadão das coisas que a sua
bondade se revela.