terça-feira, 4 de setembro de 2012

Marvada crônica em defesa da cachaça

Por Xico Sá


O que é isso, cachaceiro? indagaria o Gabeira. É, camarada, sobrou para a marvada pinga.
O mé, nobre Mussum, caro Antonio Carlis, agora está na mira dos mesmos senhores metidos que fizeram da comida um fetiche e do vinho do velho Baco uma religião de chatos.
É, o homem-bouquet é a pior raça. Cheira a rolha, sente o amadeirado, discursa para a mesa como um sábio...
É, meu chapa Toulouse-Lautrec, cabarezeiro-mor, ninguém toma mais calado o seu humilde e baratinho Malbec.
“Cala a boca e bebe, porra”, mandou na lata, noite dessas, o Paulo César Peréio, um dedão em riste e o outro girando a pedra de gelo do uísque.
A taberna veio abaixo. Até o homem-bouquet riu e deu razão ao nosso amigo ator, macho e gaúcho de Alegrete, relaxando o clima tenso daquela nossa távola redonda.
Te cuida, marvada, agora querem te pegar para sangue de Cristo.
Tem um bocado de mala por ai tentando descobrir os teus aromas, teus boquets, teus cheiros guardados em barris de estragos.
Ah, salineiros corazones, que raça!
Bom que apareceu ai o compay Fábio Seixas, ontem no caderno “Comida”, na versão impressa desta Folha, com toda a dialética do esclarecimento cachacístico.
Seixas, colega aqui de blogosfera, foi la no Rio de Janeiro e ouviu um cabra do ramo, que teria tudo para ser metido e perpetuar o truque do degustador picareta, o tal do cachacier etc.
Qual o quê!
“Cachaça não tem buquê. Cachaça só tem um cheiro. De cana!”, disse o mestre Marcelo Câmara, juramentado cachaçólogo .
Parecia mais meu pai Francisco Nildemar, Sítio das Cobras, Santana do Cariri, sopé da Chapada do Araripe, divisa entre o Ceará e Pernambuco, falando.
Ufa, ainda bem, achava que tinha perdido o sentido do cheiro de vez, pois tenho amigos frescos farejando uns aromas na marvada que não convêm.
Levanta-te e anda, Lázaro. O único bouquet, buquê, de um homem de responsa, é o cheiro da sarjeta. Diante dela, ele age, sem cheirar a rolha.
Faz favor, Brasil, não enquadre a marvada pinga.
Lembre daquele correspondente do New York Times, que diante da primeira queda do Lula, demonizou logo a cachaça?
Ah, escorracem o homem, não a danada.
O mal é o que sai da boca, meu velho, não o que entra.

Publicado em  http://xicosa.folha.blog.uol.com.br/arch2011-06-05_2011-06-11.html

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